domingo, 14 de dezembro de 2008

CARTA ÀS ALMAS DO R. U.




“O amor me move: só por ele eu falo” Dante Alighieri

As pessoas são os excêntricos personagens desse capítulo fabuloso que é a ocupação do R.U. E esse texto é só pra elas: figuras pitorescas que constituíram as tintas, as mãos, os pincéis, o cavalete, e a tela onde vi surgir essa bela obra de arte a que chamaram movimento R.U. Conviver com vocês me rendeu uma experiência tão harmônica, tão energética, produtiva e valiosa, quanto creio ser impossível expressá-la, ou reproduzi-la em qualquer laboratório ou sala de aula.
Desconheço meios que possam transcrever a magia experienciada nos diversos momentos que compartilhamos. Momentos de muita aprendizagem, de muita viagem, muita felicidade, amor e coragem. Não citarei fatos ou nomes. Prefiro o que nos assemelha ao que nos distingue, toda diversidade é fruto de nosso sonho cósmico e se nos ativermos a ela não acordaremos, não conheceremos a unimultiplicidade ou universidade.
Conviver e aprender com a diversidade; perceber a unidade de onde ela radica; isso é que é uma verdadeira aula universitária, univérsica. É preciso romper as barreiras ilusórias que separam as pessoas e impedem o amor de se manifestar em sua plenitude. Certa vez uma luminosa alma disse que devemos amar ao próximo como a nós mesmos, e outra alma também muito lucífera disse que o próximo é tudo que tem vida. A vaidade narcísica, a inveja, a cobiça e a falsidade - todas filhas da ignorância - só produzem violência, desgraça e infelicidade.
Nessa residência eu vi o amor emanar seu perfume atraente e envolvente, e vi, também, a ignorância exalar seu odor cadavérico e segregador. Espero que como eu vocês prefiram cultivar as rosas aos gambás, amando a todos sem distinção, com o verdadeiro e único amor, o incondicional. E que nunca desacreditem na grandeza, na riqueza e na beleza da alma humana, e na perfeição que em cada ser se oculta.
Para mim o “lugar” onde a sabedoria, o amor, a justiça, a verdade e a bondade prevalecem, o chamado reino dos céus, está no interior de cada ser. Um tesouro ocultado sob o mar revolto dos pensamentos, sensações e sentidos, que só será encontrado quando aprendermos a mergulhar em nós mesmos, quando aprendermos a auscultar silenciosamente o universo, quando deixarmos que o mar se acalme.
É esse o sentido, creio, do que estava escrito na fachada do templo do oráculo de Delfos lá na Grécia antiga e que servil de premissa para a vida do sábio filósofo Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os Deuses e o universo”, frase que ouvi meu pai dizer quando eu ainda era criança e que admiro e carrego na memória.
Na vida temos que saber onde queremos chegar, qual é a nossa meta. A minha é descobrir quem sou; encontrar a minha luz interior, o meu sol, e permitir que ele ilumine e aqueça a minha existência e a dos que estão à minha volta. Ser feliz, ser sábio, ser livre, ser bom e fazer o bem, essas são minhas pretensões. Creio que todos estão a caminho disso, a diferença é que uns vão acordados e outros vão dormindo, sonhando. Eu pretendo ir acordado, consciente e tranqüilo.
Bem, pra finalizar, quero lembrar que ainda temos muitas coisas para construir juntos. Com chuva ou com sol, com ou sem luar, calor ou frio... São infinitas possibilidades. Não existe tempo ou lugar, o que queremos é o que podemos desde que saibamos interpretar e respeitar as leis do universo. Espero sempre poder contar com o amor, a compreensão, o respeito e a amizade de todos vocês, e que eu lhes possa retribuir a altura.

Sebastião da Silva Mello Neto
Itabuna, 07 de dezembro de 2008